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Janete Nazareth é pedagoga, especialista em educação e ativista de direitos humanos. Ela contou para nós os desafios e a importância do trabalho realizado pelo coletivo Mulheres do Salgueiro

 

Moradora do Salgueiro, Janete nos contou sua história e o que a inspirou a realizar esse trabalho social de tanta importância para diversas pessoas. Após separar de seu companheiro durante sua segunda gravidez, Janete viveu os percalços de uma maternidade solo, algo que a motivou a criar alternativas, dentro do território de sua comunidade, que poderiam potencializar mulheres que vivenciavam situação semelhante a dela. 

— A gente pensava em como fazer uma ação, uma qualificação, para que as mulheres conseguissem trabalhar e ficar mais perto dos seus filhos. Na época eu trabalhava numa fábrica de costura em Pilares, e São Gonçalo era muito forte na produção têxtil, e a costura foi aparecendo como sendo uma alternativa para tirar essas mulheres do subemprego. — contou Janete. 

Ela falou que no começo a intenção principal do coletivo era gerar trabalho e renda, mas com o tempo perceberam que estavam fazendo além disso, estavam garantido direito a vida e que a ideia do coletivo trouxe também o sentimento de pertencimento para os envolvidos.  

— Através de parcerias conseguimos apoio para criar uma tecnologia social para São Gonçalo, onde aprendemos a fazer o processo do curtimento do couro da Tilápia e a confecção de produtos. A gente tem uma parceria com uma associação de criadores de Tilápia lá em Barra do Piraí, trazemos a pele da tilápia para o Salgueiro onde realizamos o processo e produzimos os produtos. — disse Janete.

Ela explicou como funciona o Rapaass, uma rede que foi criada para atuar em São Gonçalo para além do território do Complexo do Salgueiro, expandindo a atuação do coletivo. O Rapaass iniciou durante a pandemia, confeccionando máscaras para doar e através de diversos apoios e parcerias criaram folhetos para conscientizar a população sobre os cuidados na pandemia. 

— Quando a Fio Cruz abriu um edital público, nós criamos um projeto parecido com o que já vinhamos desenvolvendo mas nós queríamos mais, então nós lançamos a primeira moeda social, a Salgueiro Salva, porque a gente não queria dar uma cesta básica com produtos de baixa qualidade. Então criamos essa moeda social, a gente tinha um valor por cartão, e as pessoas podiam ir no mercado que a gente fez a compra e escolher seus itens. E isso dava para as pessoas autonomia, dignidade e amor próprio. E do outro lado conseguimos autorização com a Fio Cruz para comprar com as pessoas da Agroecologia aqui de São Gonçalo, então as pessoas recebiam também na cesta legumes, frutas, ovos e etc… — Contou Janete.

Ainda sobre a rede Rapaass, Janete contou sobre o projeto que está em andamento no momento que se chama rede Rapaass saúde integral de São Gonçalo, que atua como o racismo estrutural e ambiental impacta na saúde das pessoas e em principal das mulheres. Ela falou também sobre o prêmio Cidadania Cultural que o coletivo Mulheres do Salgueiro recebeu em 2020 e afirmou que além de não ser o objetivo, o reconhecimento da sociedade é importante para confirmar que o estão no caminho certo e falou sobre os desafios enfrentados nesses 22 anos de coletivo. 

— A gente ainda tem desafios que são diários, a autonomia dessa instituição é um desafio que ainda temos todo dia, mas ao mesmo tempo que é um desafio é um grande ganho, porque quando a gente consegue construir conhecimento em território de favela, aonde nós não estamos ali porque somos miseráveis ou queremos esmola, não é isso, a gente quer ter poder, autonomia, ter voz, entender o que está acontecendo no mundo. E além disso tem um grande desafio também é se manter vivo, vivo e integro na sua saúde física e mental. Mas eu acredito que o que estamos construindo é extremamente gratificante, quando a gente encontra alguém na rua que diz que conseguiu um emprego a partir de algum curso que ministramos na instituição, é muito gratificante  e toca a alma. — afirmou. 

Por fim Janete deixa um recado para quem quer trabalhar com o social ou criar um projeto para ajudar ao próximo.

— Tem que amar muito, tem que amar demais, mas é um amor diferente do amor familiar, é um amor ao olhar pro outro. Porque eu acho que a gente vive numa sociedade muito preconceituosa em varios segmentos, seja com a população de rua, seja com os menores infratores, a gente tem muitos preconceitos inclusive com o povo da favela. Eu acredito demais na potência das pessoas que acordam 5 horas da manhã pra enfrentar 2 horas de transito para ir pro trabalho, mas acredito demais na potência das mulheres que não conseguem as vezes fazer esse deslocamento por conta dos filhos. Então elas precisam criar maneiras de sub existir, então o que eu posso falar pra quem pensa em fazer alguma coisa nesse sentido é, a gente ama o que faz. A gente precisa ocupar os espaços, porque eu acredito que sair do lugar de opressão que a gente vive, é estar nesses espaços também. – Finalizou Janete. 

Acompanhe Janete e as Mulheres do Salgueiro nas redes sociais:
@janetenazareoficial
@mulheresdosalgueiro

 

Por Yuri Griem

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