Professor da UFRJ apresentou dados em debate realizado na Assembleia Legislativa.
A Comissão de Segurança Alimentar, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), realizou nesta sexta-feira (05/04) o seminário “Dia da Saúde e Nutrição: Desafios e perspectivas para a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada”. Durante o evento, o professor adjunto do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Cesar Pereira de Castro Júnior, apresentou dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II VIGISAN), de 2022, que apontam que o Estado do Rio possui os piores índices de insegurança alimentar da Região Sudeste.
De acordo com os dados do estudo, o Estado do Rio possui 2,7 milhões de pessoas passando fome – pior índice da Região Sudeste. Além disso, 40% da população fluminense vivencia insegurança alimentar moderada ou grave; 60% enfrenta algum nível de insegurança alimentar; 61% dos domicílios com renda per capita menor que meio salário mínimo estão em insegurança alimentar grave; e 56% dos domicílios onde há pessoas em trabalho informal ou desempregadas vivem insegurança alimentar grave ou moderada. A nível nacional, o Brasil possui 33 milhões de pessoas passando fome, sendo a maioria mulheres pretas que residem em áreas rurais.
“O primeiro passo é a gente trabalhar na construção de políticas públicas de combate à fome e de garantia à segurança alimentar. Além disso, é importante pensarmos qual modelo de sistema alimentar estamos favorecendo. Como esses alimentos estão sendo produzidos, comercializados e consumidos. O cenário é difícil e precisamos garantir alimentação adequada à população. A Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan) também trouxe um bom elemento, que é o decreto que regulamenta a cesta básica de alimentos”, explicou o professor.
Segundo a presidente da Comissão da Alerj, deputada Marina do MST (PT), nas últimas décadas o Brasil atravessou mudanças políticas econômicas, sociais e culturais que implicaram transformações no modo de vida da população e nos hábitos alimentares. “Atualmente, as principais doenças que afetam a população brasileira deixaram de ser agudas e passaram a ser crônicas. As doenças crônicas são as principais causas de morte entre adultos. A mudança no padrão de alimentação, envolvendo a substituição de alimentos in natura para processados ou ultraprocessados, é um dos elementos chaves para a compreensão desse novo cenário”, explicou.
Marina também reforçou que o Guia Alimentar para a População Brasileira, que neste ano completa 10 anos, recomenda que o consumo de alimentos processados seja reduzido e que se evite o uso dos produtos ultraprocessados em todas as faixas etárias. “É necessário termos campanhas de conscientização sobre o incentivo à produção de alimentos da cultura familiar e fazer os debates sobre o consumo de alimentos processados e ultraprocessados nas escolas, onde as crianças ficam expostas a este tipo de alimentação”, acrescentou.
Já a coordenadora geral de promoção da Alimentação Saudável da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan) do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Bruna Pitasi, comentou sobre algumas das iniciativas da pasta no combate à fome e para a promoção da alimentação saudável. “A insegurança alimentar e nutricional tem desfechos que podem ter dois extremos, que são a obesidade e a fome, por questões de renda e de acesso a alimentos saudáveis. A gente está apoiando os 60 municípios prioritários da estratégia Alimenta Cidades e trabalhando na composição exemplificada da Cesta Nacional de Alimentos”, disse.
Por sua vez, a nutricionista e presidente do Conselho Regional de Nutricionistas 4ª Região (CRN-4), Anna Carolina Rego Costa, que também participou da organização do seminário, apontou para a abrangência dos debates realizados. Para a profissional, eventos assim possuem papel fundamental na conscientização para o combate à fome, além da importância de uma alimentação saudável para a população, especialmente aquela em estado de vulnerabilidade social.
“A gente estruturou este seminário pensando no contexto atual sobre alimentação e nutrição, tentando encorajar as pessoas a se aproximarem das escolhas alimentares e dos produtores. A ideia era não só trazer os desafios, mas também perspectivas e esperanças. É preciso começar campanhas e incentivar espaços de discussão como este. A gente tem a ideia de propor uma Frente Parlamentar do Nutricionista para que possamos fortalecer essas pautas”, destacou a nutricionista.
A professora associada do Instituto de Nutrição da UERJ e integrante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Juliana Pereira Casemiro, pontuou que há dados preliminares que apontam para queda na insegurança alimentar no país, mas, ainda assim, o cenário em todo o Brasil permanece distante do ideal. “A gente já tem alguns dados dizendo que, em 2023, houve uma redução da insegurança alimentar. Todavia, não é momento de comemorar, mas sim de permanecer muito alerta”, salientou.
Alimentos ultraprocessados nas escolas
O professor Castro Júnior também sublinhou a questão do comércio de alimentos ultraprocessados em escolas e adjacências. Ele explicou que um estudo conduzido por pesquisadores da UFRJ e Fiocruz para mapear desertos alimentares – regiões onde há privação de alimentos saudáveis – no entorno de escolas públicas e particulares apontou que esses desertos estão em áreas de maior segregação e vulnerabilidade social. Além disso, o estudo de Comercialização de Alimentos em Escolas Brasileiras (Caeb-UFRJ) apontou que as cidades de Niterói e Rio de Janeiro apresentam os dois piores cenários de alimentos ultraprocessados comercializados em escolas privadas.
“Os índices de saudabilidade do Rio de Janeiro e de Niterói ficaram com as piores notas. Todas as cidades foram reprovadas, mas essas se destacaram negativamente. No entanto, essa questão está sendo enfrentada através de leis que proíbem os alimentos ultraprocessados nas cantinas desses municípios”, acrescentou Castro Júnior.
Consumo de agrotóxicos
Durante o seminário, a nutricionista Nathalia Alves, que estava assistindo ao debate na plateia, fez um alerta sobre o consumo de agrotóxicos no Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) de 2022, o país é campeão mundial no consumo dessas substâncias e despeja mais de um milhão de toneladas de agrotóxicos nas lavouras por ano.
“O agrotóxico mata não só quem come o alimento contaminado, mas também o trabalhador que está diretamente no campo. É importante a gente pensar de onde vem os alimentos e como eles são produzidos. Em 2021, consumimos cerca de 720 mil toneladas de agrotóxicos no Brasil. São indústrias farmacêuticas que não estão pensando na nossa saúde. O que mais assusta é que a gente nem sempre tem a escolha do alimento sem essas substâncias”, disse a profissional.
Fonte: ALERJ