A niteroiense Cauana Oliveira da Conceição Iria, de 20 anos, está em processo de construção do seu primeiro documentário, o curta “Sufoco: Falar ou Viver no Morro do Estado”, onde fala sobre mulheres negras na comunidade de Niterói, onde nasceu e mora até hoje.
A história conta um pouco da vida das mulheres, entre elas a sua mãe Fernanda Maria, sua tia Neuza Maria e uma vizinha chamada Neinha. A trama, de 15 minutos, fala sobre a vivência e a sombra da invisibilidade social onde elas são impulsionadas a tomar decisões que destacam a ausência de justiça social em seu entorno. O documentário contém entrevistas feitas na própria comunidade e contará com participação de pessoas que têm diversas histórias, e contou com incentivo da Lei Paulo Gustavo na categoria Produção de Jovens Periféricos.
“O documentário mostra as mulheres que me criaram com todo o amor do mundo. E de certa maneira isso aconteceu quase sempre no Morro Estado. Eu fiquei muito curiosa e decidi entrevistar elas para saber porque que a gente também não explorou todos esses lugares bonitos que Niterói se orgulha e retrata até de modo oficial”, frisou Cauana que estuda pré-vestibular para cursar Cinema na UFF.
O cotidiano delas é marcado pelo desafio de permanecerem em silêncio diante de afirmações e questionamentos que revelam a existência de uma estigmatização preconceituosa e naturalizada da mulher negra e favelada em Niterói. Diante do tédio, da indignação perante o preconceito e da tristeza pela falta de perspectiva de mudança, as protagonistas decidem compartilhar conselhos para meninas e mulheres negras de todas as periferias, buscando oferecer orientação e encorajamento.
O olhar atencioso através das lentes faz parte do cotidiano da jovem, que divide o estudo e as produções com o trabalho que exerce como fotógrafa no Instituto Gingas, que promove a acessibilidade através da capoeira, música e educação em Niterói.
“Cauana é fotógrafa do instituto e tem um olhar diferenciado para tudo que é preciso ser registrado. Ela tem uma doçura e uma atenção na hora de fotografar. O documentário que ela está produzindo eu tenho a certeza que vai emocionar e impactar o público com toda essa generosidade e profissionalismo que ela tem. Eu tenho um grande orgulho de ser padrinho dela e compadre da ialorixá Mãe Fernanda de Xangô, a sua mãe”, comentou o fundador do grupo, David Bassous, conhecido como Mestre Bujão.
Fonte: Raquel Morais