A mudança de calendário, naturalmente, vem acompanhada de uma atmosfera de recomeço que nos impulsiona a estabelecer metas, montar listas de objetivos e planos a serem realizados ao longo do ano que se inicia. Somos inundados por diversas aspirações, principalmente, após um período tão turbulento e inusitado como foi o ano de 2021.
Certo que, existe uma variação muito grande nestas intenções, em vários campos da vida, que vai desde as mais simples até as mais complexas ou com maior grau de dificuldade. Seja no campo afetivo, profissional, nos estudos, relações familiares e até nas finanças pessoais.
Podem ser metas de emagrecimento, mudanças de emprego, escrever um livro, casar, viajar, ter filhos, eliminar dívidas, mudar de país, entre outros. Não importa, a verdade é que a cada ano renovamos nossas expectativas e nos enchemos de esperança de que, ao fim dos 365 dias iniciados, todas as metas estabelecidas estejam cumpridas.
O romancista britânico Lewis Carroll, autor do clássico conto “Alice no País das Maravilhas”, retratou em uma fala entre a menina e o gato, um exemplo do quão saudável e importante é planejar e estabelecer metas de vida. Neste diálogo, ao encontrar o gato, Alice indaga qual o caminho ela deveria seguir.
O misterioso felino respondeu: “Isso depende muito do lugar onde quer chegar. Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”. E é bem isso mesmo: as metas, estratégias e objetivos são valiosos na construção do nosso próprio equilíbrio e bem-estar.
A definição de propósitos e a busca por conquistar objetivos, são ações benéficas que contribuem para o aumento da autoestima, o fortalecimento do ego, a renovação do ânimo, a diminuição do estresse e a injeção motivacional; além de propiciar saudáveis mudanças comportamentais e promoverem o autoconhecimento do indivíduo.
Entretanto, o grande desafio é tirar os desejos do papel, eliminar a procrastinação, concretizar os sonhos e não permitir que uma meta não concluída, por qualquer que seja o motivo, se transforme em frustração, sensação de fracasso ou sofrimento.
Á vista disso, alguns cuidados devem ser tomados para que essa construção pessoal não se transforme em um pesadelo.
É muito importante definir metas concretas e tangíveis. Objetivos reais e alcançáveis. Um dos grandes erros é não se atentar para a viabilidade do que está sendo estabelecido. Definir metas incompatíveis com a sua realidade, pode ser um prato cheio para a frustração. Além disso, alguns desejos podem depender também de outras pessoas, ou até mesmo de um tempo maior que 12 meses para se concretizarem.
Também não adianta fazer uma lista gigantesca de metas a serem alcançadas. Quantidade não é sinônimo de qualidade ou de perfeição. Comprometa-se com o que dará conta de ser cumprido para que seus objetivos não sejam adiados. Desta forma, corre-se menos risco de ser atropelado por sentimentos de procrastinação que adiam decisões e buscam desculpas para impedir a sua progressão.
A grande sabedoria é não permitir que as metas se transformem em peso nas costas. Isso é muito comum, quando estabelecemos metas pessoais e, ao findar do ano percebemos que nem tudo o que foi estabelecido, foi cumprido. Desta forma, carregamos para o novo ano “dívidas” e cobranças mentais indesejáveis.
Motivo pelo qual, devemos dar pequenos passos para encontrar caminhos funcionais. Lembrando que o que funciona para uma pessoa, nem sempre funcionará para o outro. Afinal de contas, viver não é uma simples prática culinária onde, com a receita em mãos, obtemos um fantástico e desejável bolo.
A evolução pessoal demonstra que precisamos nos organizar, vencer nossos próprios medos, alinhar a mente e o corpo, equilibrar o desejo real do que é imaginário e, mais do que isso, rever e promover a mudança de nossas atitudes e comportamentos.
Estar em paz consigo mesmo, sem se cobrar além do limite, já é uma excelente saída para alcançar suas metas com a paz de espírito desejada. Relaxar, dando um passo de cada vez, pode também ser a chave que irá contribuir para se ter melhores ganhos físicos e mentais.
Pensando neste caso, na eliminação das doenças psicossomáticas que, se instalam e são desencadeadas para o corpo, em decorrência de traumas e neuroses construídas na psiquê.
Muito mais do que estabelecer metas a cada virada de ano, devemos cuidar para que esse gás não se perca ao longo dos dias e meses e que não sejamos acometidos por angústias ou sensação de fracasso.
Rever as listas de anos anteriores também ajuda a enxergar e refletir sobre o que nos impede de conquistar determinados objetivos que, entra ano e sai ano, se repetem em nossa lista de metas e, consequentemente, acabam não saindo do papel.
Também é super válido identificar quais as crenças bloqueadoras precisam ser derrubadas para que novos resultados apareçam. Mas, cuidado para não transformar o estabelecimento de metas em uma competição consigo mesmo.
Seja determinado, mas não se esqueça que mudar é um processo. Não vale a pena se martirizar e perder a paz. Mais importante que conquistar é a construção e o caminho a ser percorrido e, o quanto de crescimento e aprendizado se obteve ao longo deste percurso.
Reflita sobre seus sucessos até aqui, mas não se esqueça que os fracassos também devem ser valorizados. Transforme suas frustrações em gatilhos para a obtenção de força na busca de caminhos mais assertivos.
Portanto, estamos iniciando um 2022 com muitas esperanças, promessas e sonhos. Campo fértil perfeito para que se possa fazer um balanço fiel de como estamos administrando nossos desejos e emoções.
Momento de indagar: Onde queremos chegar? Por quê? Para quê? O que isso irá acrescentar em nossas vidas? Tenha enfim, serenidade na mente e elimine a impulsividade, agindo com cautela e percebendo, cada vez mais, o que seus instintos e essência lhe dizem.
Agir sem saber gerenciar os sentimentos, pode provocar escolhas equivocadas e sem muitas expectativas de sucesso. O melhor a fazer é desacelerar o pensamento e saborear o momento, mantendo o foco, o equilíbrio e cuidando de sua saúde mental para encarar, de forma equilibrada e assertiva, um novo ano e seus novos desafios. Por: Dra. Andréa Ladislau/Psicanalista