Livros infanto-juvenis ajudam a apresentar conceitos de diversidade para as crianças dentro do contexto das disciplinas da Base Nacional Comum Curricular.
Que criança não gosta de se debruçar sobre um livro colorido, ilustrado, divertido e que, ao mesmo tempo em que aguça a imaginação, traz a proximidade com as situações do dia a dia? Pois esse pode ser também um recurso valioso para a abordagem em sala de aula de temas essenciais na educação integral dos futuros cidadãos, como a igualdade racial e de gênero.
“Convivemos diariamente com a diversidade cultural, a desigualdade social e diferentes visões de mundo e valores, às vezes conflitantes com os nossos. É na escola que crianças e jovens interagem pela primeira vez de maneira independente, em sociedade, então, nada melhor do que trazer a pluralidade para essa rotina, utilizando o universo lúdico dos livros como apoio nesse propósito”, destaca Taciana Begalli, coordenadora do projeto Mundo da Leitura, que já beneficiou mais de 18 mil alunos de escolas públicas de mais de 20 cidades do país com a doação livros e a capacitação de professores.
Taciana lembra que, da mesma forma que hoje já existe à disposição uma série de obras que abordam a igualdade de gênero e racial, também é preciso facilitar o acesso dos alunos a esses livros, independentemente de sua condição socioeconômica ou de outros fatores limitantes.
“É com esse objetivo que o Mundo da Leitura é implementado gratuitamente pela Evoluir nas escolas da rede pública, com o apoio de patrocinadores e leis de incentivo. Ele engloba a doação de um acervo de obras e a capacitação de professores para sua utilização em sala de aula, sempre em linha com as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular, a BNCC”, diz a coordenadora.
Especificamente em relação à questão racial, Taciana aponta que o foco é possibilitar que os alunos conheçam, aprendam e valorizem a diversidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como a cultura de outros povos e nações. “É assim que combatemos qualquer discriminação. Os livros ‘Gigi e sua tesoura mágica’ e ‘O Tesouro de Amina’, por exemplo, usados no projeto, têm protagonistas negras e apresentam elementos das culturas negra e quilombola, trabalhando a importância de sua representatividade”.
Outro tópico abordado com a ajuda da literatura é a desconstrução dos estereótipos de gênero, ou seja, as atitudes, comportamentos e expectativas atribuídas ao que a sociedade espera de “homens” e “mulheres”, como reforça Taciana. “São crenças que geram preconceitos e limitam as possibilidades de papéis exercidos por ambos os gêneros. Igualdade significa que todos devem ter os mesmos direitos e deveres, mas para isso precisamos fortalecer especialmente os direitos das mulheres, que ainda são mais discriminadas que os homens na sociedade patriarcal em que vivemos”.
Nesse sentido, a coordenadora de projeto da Evoluir indica também o livro ‘Todos juntos!’, que apresenta alguns objetivos relacionados à melhoria da qualidade de vida das mulheres e ao ODS número 5, que objetiva o alcance da igualdade de gênero até 2050. “Utilizamos ainda a obra ‘Era uma vez uma menina’, que estimula o protagonismo, em especial das mulheres, incentivando que sejam donas das próprias histórias”, diz.
Taciana enfatiza o grande benefício de estratégias baseadas na literatura, como o próprio projeto Mundo da Leitura. “São iniciativas que conseguem transmitir às crianças, de forma lúdica e leve, que toda pessoa tem o direito de desfrutar das condições necessárias para o desenvolvimento de seus talentos e suas aspirações, sem ser submetida a qualquer tipo de discriminação. A educação é o principal agente transformador e é por meio dela que vamos garantir um presente e um futuro mais prósperos para todos nós, em uma sociedade com maior equidade”.
Experiência prática e reflexão em sala de aula
O arte-educador Layó, do Instituto Arthur Moreno Paro Belmonte (AMPB) de Solidariedade do Sol Nascente, em Brasília, teve a oportunidade de conferir, na prática, como o apoio da literatura aberta a temas sociais relevantes traz mudanças positivas entre os alunos. “Trabalhamos com o livro O Tesouro de Amina com turmas de diferentes faixas etárias, desde quatro até 15 anos, com a leitura em conjunto desse conteúdo e atividades que estimularam a reflexão sobre ancestralidade, identidade, pertencimento e autoestima”.
Layó relata que, a partir da narrativa do livro – em que a pequena Amina, uma criança negra que não se identifica com as demais por conta de seus dentinhos separados passa a se ver de outra forma quando descobre que essa é uma característica de seus ancestrais – foi possível abordar com os alunos a valorização de sua origem e de sua história.
“Fizemos o exercício do espelho, onde pedimos para admirarem suas próprias características, e eles começaram a descobrir e pensar sobre sua própria ancestralidade, e como tudo isso ajudou a construir quem elas são, incentivando sua autoestima”, diz Layó. “Também tiramos muitas dúvidas sobre outros assuntos que aparecem no livro, como os orixás e a cultura africana, que é muito rica e diversa e também está presente no nosso país, na nossa trajetória”.
Layó acredita que abordar a igualdade racial e de gênero em sala de aula é essencial. “São temas complexos, que muitas vezes não são conversados em casa, não tem esse incentivo ou espaço para debate, até porque muitas vezes os pais não têm uma bagagem para lidar com isso. Precisamos trabalhar isso desde cedo, para que aprendam a respeitar, conviver e valorizar o que é diverso, entender que criticar a cultura ou religião do outro fere sua existência. Trazer essas questões com transparência e honestidade é o caminho para o futuro com mais equidade”, completa.
Ficha técnica dos livros citados e doados no projeto Mundo da Leitura
Título: “O tesouro de Amina”
Texto: Flávia Oyátumbi. Ilustrações: Suzane Lopes. Editora Evoluir. 36 páginas. Sinopse: Amina é uma menina feliz, porém raramente sorri. Ela tem vergonha de mostrar os seus dentinhos separados. Um dia, a professora pede um trabalho sobre sua árvore genealógica e sua avó conta sobre os antepassados da família. Amina aprende, com sua história, a se orgulhar do seu sorriso.
Título: “Era uma vez uma menina”
Texto: Babi Dias. Ilustrações: Larissa Ribeiro. Editora Evoluir. 40 páginas. Sinopse: Era uma vez uma menina… Não é assim que as narrações começam a contar histórias? Mas essa menina não quer histórias chatas e paradas no tempo, onde nada acontece com ela. Então, resolve tomar a palavra e criar a sua própria aventura. E ali, vai ter que descobrir, dentro de si mesma, a coragem para vencer um monstro enorme que está acabando com a alegria de viver de uma cidade inteira. Será que ela consegue?
Título: “Gigi e sua tesoura mágica”
Texto: Marilena Flores. Ilustrações: Brunna Mancuso. Editora Evoluir. 32 páginas. Sinopse: Gigi é uma tímida menina de oito anos apaixonada pelas bonecas de pano feitas por sua Vó Nena. Quando crescer, quer compartilhar felicidade fazendo bonecas, como a vó, mas parecidas com todos os tipos de crianças. Ao conhecer uma ecobrinquedoteca com suas amigas, ela faz muitas amizades e passa a costurar com afinco. Deficiente auditiva, Gigi traz uma história de superação e crescimento que irá inspirar muitas crianças e seguirem seus sonhos.
Título: Todos Juntos!
Texto: Bia Monteiro. Ilustrações: Camila Rosa. Editora Evoluir. 32 páginas. Neste milênio, muitos são os desafios que a humanidade vem enfrentando. No ano de 2000, a ONU convidou a sociedade civil e governos a olhar com atenção alguns desses desafios e juntos estabeleceram os Objetivos do Milênio: metas a serem atingidas até o ano de 2015. Tivemos algumas melhoras, mas há ainda muito a fazer para que todos vivam com dignidade e em harmonia. Com rico conteúdo informativo sobre os Objetivos do Milênio e os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o livro é um convite a conhecer e a se mobilizar para os desafios a serem enfrentados nos próximos 15 anos.
Alinhado aos Objetivos Sustentáveis da ONU
Assim como todos os projetos da Evoluir, o Mundo da Leitura dialoga com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), um plano de ação para melhorar o mundo em 17 frentes até 2030. Contribui especialmente para o ODS 4, que pretende assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos. Com uma proposta transdisciplinar e sistêmica, extrapola a própria temática da educação, trabalhando conteúdos e projetos articulados com os demais ODS, tais como Saúde e Bem-estar (ODS 3), Redução das Desigualdades (ODS 10) e Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11).
Fonte: Fábio Malvezzi