Médico explica que, embora a motivação para a cirurgia do ex-apresentador não tenha sido divulgada, é importante que a população tenha consciência de que doenças crônicas silenciosas são as principais causas do comprometimento do órgão
Na última segunda-feira (26) o ex-apresentador Fausto Silva, o Faustão, de 73 anos, foi submetido a uma cirurgia de rim no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. De acordo com o jornal O Globo, após deixar a UTI da unidade, o apresentador foi acomodado em um quarto do hospital enquanto se recupera da cirurgia.
Faustão recebeu o novo rim seis meses depois de ter sido submetido a um transplante de coração. Segundo informações do Hospital Albert Einstein, o ex-apresentador precisou passar pela cirurgia da última segunda-feira devido ao agravamento “de uma doença renal crônica” não especificada.
Ainda que não se saiba exatamente a condição que levou Faustão ao procedimento, o urologista e especialista em Transplante Renal pela Universidade de Brasília (UnB), Rodrigo Rosa Lima, afirma que, em todo o mundo, a hipertensão arterial e o diabetes mellitus são as principais causas de falha de funcionamento do rim, sendo responsáveis por cerca de 80% dos casos.
Dados da última pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), lançada em 2020 pelo Ministério da Saúde, mostram que 7,4% dos brasileiros sofrem com diabetes e 24,5% tem hipertensão. Em relação à diabetes, o perfil de maior prevalência está entre mulheres e pessoas adultas com 65 anos ou mais. O mesmo perfil se aplica à hipertensão arterial, que acomete 59,3% dos adultos com 65 anos ou mais.
Rodrigo ressalta que o rim também pode se degenerar em decorrência de problemas cardíacos, como pode ser o caso do ex-apresentador. “Quando o paciente tem doenças que podem sobrecarregar a função do rim a longo prazo, como hipertensão, diabetes, doenças reumatológicas e glomerulonefrites, é preciso de um acompanhamento crônico com um nefrologista”, explica.
Segundo o médico, o caso do Faustão, que precisou ser submetido a dois transplantes de órgãos diferentes, é incomum e exige cuidado especial. “É preciso muita a atenção ao uso dos medicamentos e seguir com o acompanhamento com os especialistas adequados: cardiologista e cirurgião cardíaco no caso do transplante do coração, e nefrologista e urologista no caso do transplante renal”, diz.
O especialista explica que as chances de uma rejeição são baixas, mas também demandam atenção. De acordo com ele, existem diferentes tipos de rejeição, causadas por anticorpos ou rejeição das células, que podem ser evitadas ou retardadas ao máximo se o paciente fizer o uso de imunossupressores de modo adequado.
“Não existe imunossupressor perfeito, que impeça a longo prazo o processo de rejeição. Para o rim, por exemplo, a média de duração de funcionamento do transplante é de 12 a 15 anos. Mas existem pacientes com rim em ótimo funcionamento por mais de 20 a 25 anos. Cada caso é avaliado individualmente”, pontua Rodrigo.
Recuperação e cuidados
Conforme o médico, o transplante restaura a função renal do paciente, trazendo significativa melhora na qualidade de vida, uma vez que deixa a pessoa livre do processo de diálise, que faz a filtragem das impurezas do sangue, principal função dos rins, de forma artificial por meio de um aparelho dialisador.
O tempo de recuperação após o transplante varia bastante, explica Rodrigo, dependendo das condições do órgão doado e do paciente que o recebeu. “Pode variar de uma semana até mais de um mês. Em casos de transplante renal intervivos, os receptores costumam receber alta hospitalar com menos de uma semana de cirurgia. Após o período de internação, é muito importante que o paciente mantenha as consultas regulares e o repouso necessário nas primeiras semanas, quando o organismo ainda está em recuperação”, destaca o especialista.
O uso correto dos medicamentos também interfere na qualidade de vida dos transplantados, lembra Rodrigo. Isso porque os remédios imunossupressores são prescritos para diminuir as chances de rejeição do órgão recebido. “Os pacientes transplantados devem usar esses imunossupressores para o resto da vida e em caso de abandono da medicação ou uso irregular, o resultado será a perda do rim transplantado e outras complicações”, alerta o médico. Ele também orienta que é fundamental seguir uma rotina adequada de alimentação e todas as orientações do nefrologista. “É também importantíssimo evitar ambientes com aglomerações, para reduzir o risco de infecções oportunistas neste período em que o organismo está mais debilitado”, destaca o médico.
Sobre o Dr. Rodrigo Rosa Lima
O Dr. Rodrigo Rosa de Lima atua em Urologia em Goiânia desde 2015. Cirurgião Robótico com Pós-Graduação no Hospital Israelita Albert Einstein e especialista em Transplante Renal pela Universidade de Brasília. É concursado do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) desde 2016; preceptor da Residência Médica em Urologia do HC-UFG e da graduação em Medicina da UFG; integra as equipes de transplante renal do HC-UFG, HGG e Hospital Urológico Puigvert; também atua nas áreas de uro-oncologia (tumores de próstata, rim, bexiga, pênis, testículos e glândulas suprarrenais); cirurgias minimamente invasivas (cirurgia robótica, videolaparoscopia e endourologia); tratamento de cálculos urinários e crescimento prostático a laser; tratamento microcirúrgico de infertilidade (correção de varicocele e reversão de vasectomia).
Fonte: Comunicação Sem Fronteiras