
Foto/Divulgação: Thiago Lontra
A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), por meio da Frente Parlamentar em Defesa da Economia Popular Solidária, homenageou 17 organizações e personalidades com o Diploma Paul Singer, destinado a reconhecer iniciativas empreendedoras que prestaram meritória contribuição ao desenvolvimento da economia solidária no Estado do Rio. A solenidade foi realizada nesta terça-feira (19/03), no plenário do Alerjão, e contou com a participação de parlamentares, autoridades do setor da Economia Solidária (EcoSol) e integrantes das organizações agraciadas.
O economista e professor austríaco Paul Singer trabalhou, ao longo de sua trajetória, o tema da economia solidária no Brasil, ajudando a criar a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo (USP), em 1998, assumindo o cargo de coordenador acadêmico desta incubadora, a primeira do país. Em 2003, foi nomeado secretário Nacional de Economia Popular e Solidária. Faleceu em 16 de abril de 2018.
Para o coordenador da Frente, deputado Flávio Serafini (PSol), a Alerj cumpre o seu papel de valorizar e fortalecer quem está construindo essas iniciativas no Estado do Rio. “As mudanças tecnológicas no mundo inteiro têm reduzido cada vez mais a necessidade de pessoas trabalhando nos diferentes segmentos da indústria. Isso tem aumentado as desigualdades e o desemprego. A economia solidária é um modo de produção que se organiza de forma horizontal, com igualdade e que tem gerado trabalho e renda para muitas famílias. Aqui, na Alerj, temos tomado uma série de iniciativas para fortalecer a economia solidária e uma delas é o Diploma Paul Singer, que reconhece quem está organizando esse campo de atuação baseado na cooperação e na solidariedade”, disse.
Uma das organizações indicadas por Serafini para receber o prêmio é o Fórum de Economia Solidária de Magé (FesMagé). Fundado por mulheres, o Fórum organiza os empreendedores do município para a reivindicação de seus direitos. A diretora executiva do projeto, Jandira Rocha de Oliveira, destacou que o principal objetivo é fazer com que o empreendedor tenha consciência do trabalho que desempenha.
“Hoje, a Economia Solidária movimenta mais de 14 milhões de pessoas no Brasil, e mais de 10 milhões são mulheres. Quando uma mãe não pode trabalhar porque precisa tomar conta de seus filhos, ela começa dentro da própria casa a fazer um bolo ou um artesanato. Daqui a pouco se vê como uma mãe empreendedora. Disso ela consegue sustentar a sua casa, complementar a renda da família e dar uma melhor educação para os seus filhos”, comentou Jandira.
Economia solidária no combate à fome
Por sua vez, a deputada Renata Souza (PSol) agraciou com o diploma duas entidades voltadas à garantia da alimentação saudável e adequada à população em vulnerabilidade social: a organização não-governamental (ONG) Gastromotiva e a Cozinha Solidária da Maré. A parlamentar explicou que o trabalho dessas instituições está no escopo do conceito de economia solidária.
“Este é um reconhecimento àqueles que são centrais para a sobrevivência da população mais pobre. Paul Singer define a economia solidária como um modo de produção cuja característica é a igualdade de direitos acrescida da autogestão. Nesse sentido, a contribuição das cozinhas solidárias para igualdade de direitos e acesso à alimentação para as pessoas mais vulneráveis é central nesse modo de observar a economia solidária”, disse a deputada.
A ONG Gastromotiva foi fundada pelo chef David Hertz, em 2006. A cozinheira social da instituição, Ana Paula Sales, destacou que, além da alimentação, a entidade ajuda a oferecer, na cidade de Itaguaí, atendimento psicossocial e promove a inclusão social através da educação. “A Gastromotiva entrou na nossa vida para a gente potencializar um trabalho que já fazíamos com menos recursos. Com a ONG, recebemos ajuda de insumos, custo para funcionamento e embalagens para que pudéssemos aumentar a produtividade de refeições gratuitas”, disse.
Exemplo de Maricá
Um dos agraciados com o diploma foi o responsável por implementar a Política de Banco de Economia Solidária em Maricá. Como secretário de Economia Solidária do município, Diego Zeidan deu efetividade ao Banco Comunitário Popular de Maricá, ou Banco Mumbuca, em 2013, com o objetivo de gerir os recursos da moeda social Mumbuca e ser o braço operacional do programa municipal de Renda Básica de Cidadania.
Atual vice-prefeito de Maricá e secretário de Economia Solidária da Prefeitura do Rio, Diego foi convidado para implementar o mesmo programa na cidade do Rio. O Projeto de Lei Municipal 2.726/23, que cria a Moeda Social Carioquinha e o Banco Comunitário Popular na cidade, está em tramitação na Câmara de Vereadores.
“A Política de Banco de Economia Solidária de Maricá é um grande exemplo para todo o estado e para os municípios que estão implementando sua moeda social. Ela é muito importante para fortalecer a economia local, a economia das comunidades e dos territórios. Aqui no Rio, a população mais carente que quer empreender e começar seu próprio negócio terá acesso a crédito, ao apoio institucional e a cursos de qualificação de empreendedorismo”, disse Diego.
A homenagem a Diego foi proposta pela deputada Zeidan (PT). “O Diego executou a Moeda Social em Maricá e lá foi dado os primeiros passos para criação da maior moeda social do Brasil. Hoje, nós temos Niterói, Macaé e outros municípios como Saquarema querendo implementar a moeda. Mais de 50% da população de Maricá está dentro da renda básica e a maioria das pessoas beneficiadas são mulheres. Minha homenagem ao Diego simboliza todo esse movimento em Maricá e agora no município do Rio”, explicou a parlamentar.
A vice-coordenadora da frente, deputada Marina do MST (PT), agraciou com o diploma a Cozinha Quilombo da Gamboa, a Junta Local, o coletivo Alaíde Reis e a família de Ricardo Costa, da ONG Capina; já o deputado Carlos Minc (PSB) entregou a honraria a três entidades: a Rede Cidade de Deus de Economia Solidária, a Fundação Angélica Goulart e o Polo de Reciclagem de Gramacho; por sua vez, o deputado Professor Josemar (PSol) concedeu a homenagem ao Centro de Ação Comunitária (Cedac), ao Coletivo Mulheres do Salgueiro e à Maria Aparecida Dias Freitas dos Santos, popularmente conhecida como Dinha Dias.
Legado de Paul Singer
O secretário Nacional de Economia Popular e Solidária, Gilberto Carvalho, exaltou o legado em relação aos debates sobre economia solidária deixado por Paul Singer, que foi o primeiro a ocupar o cargo. “Paul Singer até hoje nos inspira. A economia solidária tem que vir à luz. Ela não pode ser considerada apenas um nicho, com pequenas iniciativas. Precisa se espalhar na economia nacional, furar a bolha e permitir diálogos e propostas de uma sociedade diferente”, comentou.
Confira todos os homenageados:
- Diego Zeidan Cardoso Siqueira;
- Manoel Saraiva da Silva Júnior;
- Gastromotiva;
- Cozinha da Maré;
- Rede Cidade de Deus de Economia Solidária;
- Fundação Angélica Goulart;
- Polo de Reciclagem de Gramacho;
- Centro de Ação Comunitária – Cedac;
- Coletivo Mulheres do Salgueiro;
- Maria Aparecida Dias Freitas dos Santos (Dinha Dias);
- Cozinha Quilombo da Gamboa;
- Junta Local;
- Coletivo Alaíde Reis;
- Ricardo Costa (Capina) – post mortem;
- Fórum de Economia Solidária de Magé (FesMagé);
- Associação de Pescadores e Amigos de São Pedro (Apasp);
- Luiz Arthur de Faria.
Fonte: ALERJ