RAPHAEL OBOÉ REALIZA SUA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL EM SÃO PAULO COMO PARTE DO PROJETO ALUMIAR, NA GALERIA LUME

Detalhe da obra "O peixe comedor de petróleo" (Foto/Divulgação: Ana Pigosso)

Raphael Oboé transforma o barro em paisagem viva, criando cerâmicas que evocam memória, rito e a ancestralidade dos territórios ameríndios.


Em sua primeira exposição individual, o artista autodidata Raphael Oboé apresenta obras que evocam uma relação ancestral entre corpo, barro e território. “Ferida Aberta” reúne peças moldadas a partir de argilas selvagens, chamote e areia coletadas nos arredores da Serra do Japi, região onde o artista vive e desenvolve sua prática. Mais do que matéria, para Oboé o solo é memória viva — um arquivo silencioso que pulsa através do gesto e do tempo.

Cada etapa do processo é parte de um rito: a argila é lavada e transformada com paciência; a superfície, polida com cristais rolados até alcançar o brilho sutil da bruñida; a queima é feita em um forno a lenha construído por ele, no qual o fogo, em semi-redução, imprime marcas únicas nas peças. São obras que resultam de um diálogo íntimo com os elementos e revelam respeito pela natureza e seus ritmos.

Sua cerâmica não busca o objeto funcional, mas a travessia simbólica: entre a ancestralidade dos povos originários das Américas e as urgências do presente. Oboé ressoa tradições pré-colombianas não como citação, mas como presença viva, em continuidade. Através de sua escuta sensível — tanto à terra quanto aos sons que atravessam o Caribe e a cordilheira andina — constrói uma obra que é ao mesmo tempo som, corpo e silêncio.

Em “Ferida aberta”, cada peça carrega a marca de uma caminhada. São formas que se fazem paisagem, canto e território. A cerâmica de Raphael Oboé emerge como escrita que se dá com o corpo, como canção gravada no barro — e nos convida a escutar o tempo entranhado na terra.

O projeto Alumiar, criado pela Galeria Lume, tem o intuito de dar luz a pesquisa de artistas em início de carreira que ainda não possuem representação e tampouco fizeram uma exposição individual na cidade de São Paulo.

 

Sobre o artista

Raphael Oboé

Raphael Oboé (1995) é natural de Jundiaí, interior de São Paulo. Seu interesse pela arte vem desde a infância, e aos 15 anos começou a desenvolver sua expressão artística por meio da pichação e do grafite. Mais tarde, o contato com tradições artísticas de povos originários sul-americanos transformou sua produção, tanto na arte de rua, onde o artista desenvolveu uma extensa trajetória, quanto na cerâmica, sua principal mídia de trabalho atualmente. Através da cerâmica, Oboé entrelaça elementos de sua história pessoal, resgatando memórias familiares e explorando processos de miscigenação e apagamento identitário, fazendo referência de modo empírico e intuitivo às tradições ancestrais na arte dos povos da América Latina.

O trabalho e pesquisa de Oboé ganharam mais amplitude em 2019, quando o artista sofreu um grave acidente automobilístico que o deixou acamado por dois anos. Durante esse período, dedicou-se ao estudo intensivo de técnicas cerâmicas, minerais e culturas relacionadas, promovendo uma pesquisa aprofundada nesse campo enquanto lidava com diversas cirurgias e desafios psicológicos decorrentes da debilidade temporária. Utilizando sua experiência como ferramenta de transformação pessoal, o corpo de trabalho do artista é um processo de ressignificação da dor e do trauma.

Oboé já realizou três exposições individuais, além de participar de mostras coletivas como “O meio é a massagem” na Galeria Simões de Assis e “Pedra Viva Serra da Capivara: o Legado de Niède Guidon” no Museu Brasileiro da Escultura.

 

Sobre a Galeria Lume 

A Galeria Lume foi fundada em 2011 com a proposta de fomentar o desenvolvimento de processos criativos contemporâneos ao lado de seus artistas e curadores convidados. Dirigida por Paulo Kassab Jr. e Victoria Zuffo, a Lume se dedica a romper fronteiras entre diferentes disciplinas e linguagens, através de um modelo único e audacioso que reforça o papel de São Paulo como um hub cultural e cidade em franca efervescência criativa.

A galeria representa um seleto grupo de artistas estabelecidos e emergentes, dedicada à introdução da arte em todas as suas mídias, voltados para a audiência nacional e internacional, através de um programa de exposições plural e associado a ideias que inspiram e impulsionam a discussão do espírito de época. Foca-se também no diálogo entre a produção de seus artistas e instituições, museus e coleções de relevância. 

A presença ativa e orgânica da galeria no circuito resulta na difusão de suas propostas entre as mais importantes feiras de arte da atualidade, além de integrar e acompanhar também feiras alternativas. A galeria aposta na produção de publicações de seus artistas e realização de material para pesquisa e registro. Da mesma forma, a Lume se disponibiliza como espaço de reflexão e discussão. Recebe palestras, performances, seminários e apresentações artísticas de natureza diversa. 


Serviço

 

“Ferida Aberta”

de Raphael Oboé

Local: Galeria Lume – sala expositiva II

Abertura: 24 de maio, sábado, das 11h às 17h

Período expositivo: 24 de maio de 2025 a 21 de junho de 2025

 

Horário de visitação: Segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 15h

Endereço: Rua Gumercindo Saraiva, 54 – Jardim Europa, São Paulo – SP

Entrada gratuita 

 

Fonte: Pedro Meade/Galeria Lume

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